quarta-feira, 21 de maio de 2008

Ali... pedofilia...


A reportagem “Crianças, vendem-se” foi emitida,
ontem, pela SIC. De seguida, seguem
as observações da jornalista, Isabel Nery,
que esteve num dos países com maior incidência
de exploração sexual de menores, o Brasil.
Uma grande reportagem que se demarca
pela qualidade e rigor, disponível agora AQUI!

“O Brasil é um dos destinos preferidos dos turistas sexuais. Portugueses, espanhóis e italianos são os principais consumidores de sexo fácil e barato com mulheres, mas também com crianças e adolescentes brasileiras. Para entrar na rota da exploração sexual infantil, que vitima dois milhões de crianças em todo o mundo, os repórteres da SIC e da revista VISÃO estiveram em Salvador, Porto Seguro e Fortaleza. Encontraram miséria, droga, corrupção e prostituição. Encontraram infâncias roubadas.
Ao primeiro dia
vi pobreza, rios de esgoto a atravessar barracas, gente que se fecha em casa com medo das armas dos traficantes de droga.
Exploração.
Ao segundo dia
ouvi gente que trabalha sobre a exploração sexual infantil há muitos anos e me alertou: “Aponta-se o dedo ao turista sexual, mas isso é só a ponta do icebergue. Elas vendem-se porque têm fome. Os pais abusam, empurram. As mães fecham os olhos porque precisam do dinheiro.”
Direitos da criança.
Ao terceiro dia
registei a revolta de uma assistente social. Contou-me que, há seis anos, em Salvador, o recepcionista de um hotel de cinco estrelas chamava uma mãe para deixar um bebé de oito meses no quarto dos turistas que o “encomendavam”. A mãe voltava à hora marcada para recolher o bebé e o dinheiro. Até ao cliente seguinte.
Tráfico de seres humanos.
Ao quarto dia
encontrei uma mulher de olhar confuso, que recorria à mãe para confirmar a sua própria idade. Queria tanto fugir à pobreza da sua aldeia que, com 17 anos, aceitou que um suíço, 30 anos mais velho, a levasse para a Europa. Foi drogada, pontapeada, queimada. Não podia sair de casa sozinha. Mesmo assim não se considerava escrava. Antes presa numa casa rica, do que livre para a miséria. Parece uma opção. Mas é só a história de quem não tem opção.
Machismo.
Ao quinto dia
esperei pelo relato do repórter de imagem da SIC, Jorge Pelicano, sobre o resultado do seu “disfarce” como turista sexual. Um taxista garantiu-lhe que arranjaria uma adolescente. “É fácil.” Mas, pior do que isso, confessou, orgulhoso, que há pouco tempo tinha “transado” com uma. Ela não tinha dinheiro para pagar a viagem. Ele cobrou-se como melhor lhe convinha: “Menina novinha é bom demais.” Para ele. E para ela? Não importa.
Culpa.
Ao sexto dia
entrevistei adolescentes que tinham os braços todos cortados. Vítimas de exploração sexual desde crianças, automutilavam-se. Alguns cortes marcavam os pulsos. Perguntei se não tinham medo de morrer: “Não importa. São trinta minutos de alívio. Quanto mais sangue sair, melhor me sinto a seguir”, respondeu uma delas.
Abandono familiar.
Ao sétimo dia
perguntei a uma jovem abusada pelo pai desde os 7 anos e explorada por pedófilos se não queria ter filhos. Respondeu que não, “porque não”, e pregou os olhos no chão. Quando se confessou incapaz de dizer “não” a homem algum, porque tinha medo de “apanhar”, como acontecia com o pai, foi a minha vez de pregar os olhos no chão. Estava a tornar-se cada vez mais difícil entrar na alma destas miúdas e sair ilesa.
Droga.
Ao oitavo dia
fitei o olhar de um menino de rua na noite de Fortaleza. Ele correspondeu. Tinha 6, 7, 8 anos, no máximo. A pele estava esticada, à volta dos olhos havia rugas – um olhar de criança em rosto de velho. Era já madrugada e ele andava pelas mesas dos bares de prostituição a apanhar as latas vazias para poder fumar crack.
Emocionalmente, a minha reportagem acabou aqui. Já tinha visto todo o mal que o mundo tem para oferecer às crianças. Um mundo localizado num destino de férias paradisíaco, onde milhares de portugueses gostam de passar férias. Alguns não vão só à procura de belas praias. Cada minuto do seu prazer ficou marcado nos braços das minhas entrevistadas.”

Jornalista: Isabel NeryImagem: Jorge PelicanoEdição de Imagem: Paulo TavaresGrafismo: Hélder FerreiraProdução: Isabel Mendonça; João Nuno AssunçãoCoordenação: Cândida PintoDirecção: Alcides Vieira

2 comentários:

Marian - Lisboa - Portugal disse...

Parabens por teres trazido este assunto tão monstruoso para aqui, Nana... é urgente tomarmos todos muita consciencia...
Para mim e incrivel a postura de um pedófilo: a tremenda falta de afinidade emocional que o faz ter uma completa ausencia de noção -ou ter e nao se importar! do comportamento incrivelmente danoso que está a ter para com outro ser...

Lealdade Feminina disse...

Eu hj estive pensando... será que por a mulher já não se encontrar tão... vou fazer a postagem... Beijo querida...