segunda-feira, 26 de maio de 2008

Bicho Papão existe!!!

Eu fico aqui pensando:
Se a pedofilia assim tão nojenta sempre existiu
ou agora com a internet ficou mais visível...
Ou ainda, se por as mulheres terem encontrado
de alguma forma, alguma defesa e direitos,
os homens mais "doentes" teriam se voltado
para o ataque a crianças, uma vez que estas ainda
se encontram numa situação frágil e desprovida
de proteção eficaz ou direitos de fato...
A impunidade existe, e isso é óbvio, e claro,
que esse tbm é um fator importante...
E a "Casa Pia"? Até agora... nada...
Ninguém tem dúvidas de que essas coisas aconteciam,
mas o problema é que não eram pais ou padrastos drogados,
bêbados, mendigos, ou seja a escória que se joga numa cela
e que não faz diferença pra ninguém...
A preocupação dos advogados é limpar a imagem dos seus
clientes perante a sociedade, que em todo lado é
hipócrita q.b.
E as vidas dessas crianças, que cresceram marcadas,
feridas, essas infâncias perdidas, essas vidas manchadas
Quem é que as vai defender?

E ainda há aqui, uma coisa ainda pior
que é a conivência, ou a covardia, dos adultos,
que tomam conhecimento do caso, e nada fazem.
Eu conheço uma mãe, que teve uma filha violada,
por um vizinho, enquanto estava ausente, mas nunca
disse nada ao pai, para o poupar da dor, e assim
o vizinho nunca foi punido, mas a filha de 4 anos, ficou marcada
pra sempre, inclusive com uma cicatriz na face.
Em outro caso, o padrasto obrigava a enteada
a fazer sexo oral, esta ainda adolescente, 11, 12 anos.
Mesmo hj em dia, depois de alguma análise ainda
tem a vida sentimental e sexual nublada,
mas a mãe continua casada com o tal padrasto,
mesmo sabendo que ele é um traste...
Como professora nas periferias de BH
vivi muitas vezes essa experiência com alunas
vítimas de abusos e violências...
até abrir mão de um cargo efetivo, pelas minhas angústias
em não poder ajudar, totalmente impotente...
O último caso que me marcou foi o da Michele,
ela e a amiga estavam em casa da amiga estudando,
qdo chega o pai bêbado e obriga as duas
a manterem relação com ele... As duas eram minhas alunas,
e enquanto Michele se sentia terrivelmente envergonhada,
a filha do agressor dizia a toda gente o que havia se passado,
nada foi feito no sentido de punir o pedófilo,
a mãe da Michele, divorciada do pai, não achou
que valia a pena fazer nada, sozinha e pobre, ela
pensava que poderia ser perigoso pra elas denunciá-lo.
E é ainda pior qdo é o próprio pai da criança,
o autor do crime... a minha vizinha tinha uma sobrinha,
que um dia no meio de uma reunião familiar acusou o
pai, um alcoolatra sem tratamento, de ter abusado dela
várias vezes durante a sua adolescência, e ela
só agora, já casada e mãe de duas crianças teve
coragem suficiente de dizer isso perante toda a família.
Tbm nesse caso, nada foi feito, as pessoas
"abafaram o caso", e duvidaram da veracidade dos fatos.
Será por já não poder atacar as vovozinhas
tão à vontade, que os monstros homem
se voltaram para a pedofilia? ou será que como
toda a podridão do patriarcado está vindo à tona
como nunca antes, tbm essa atrocidade sempre existiu,
encoberta pelas mulheres e pela lealdade masculina?
não é só a falta de noção, Marian...
é algo que eu não sei nominar...
Quando eu falei com meu tio que estava fazendo
um blog com uma temática feminista, ele me disse:
isso é frescura não é não?
E eu tentei emendar: é ecofeminismo, uma visão
do feminismo aliado às questões ecológicas...
e ele: Ah, mais frescura ainda...
Mas qdo eu disse a estatística sobre a criminalidade
feminina, à volta dos 3,7%
ele ficou calado... pois tendo ele cargo de alta patente
dentro da Polícia Militar de Minas Gerais,
sabe bem que há uma diferença gigantesca...
mesmo assim ele disse: Mas hj em dia as mulheres
tbm estão muito envolvidas em assaltos, tráfico, etc...
E eu disse: mas vc sabe que na maioria dos casos, elas
o fazem coagidas pelos namorados, maridos e parentes.
e encerramos a conversa...

A verdade é que o sistema patriarcal é baseado
num submundo de violências, atrocidades, torturas
e que a defesa dos direitos humanos é relativamente
recente... Por isso qdo falo das sociedades matrilineares
como uma alternativa, não falo pq sou mãe...
falo pq sou humana, ainda...
Embora eu pense que não mereçamos uma chance
temo-la, e devíamos aproveitar...
Antes que a capa da revista aí encima
deixe de ser apenas uma campanha anti-pedofilia
e passe a ser uma realidade surda, muda e cega.


3 comentários:

Marian - Lisboa - Portugal disse...

Ah, Nana eu penso sinceramente que estas coisas sempre existiram em alto grau... e alto segredo tambem!
A diferença é que agora a mentalidade (genericamente falando) está mais aberta, as pessoas tem mais consciencia dos seus direitos e acontece até uma coisa sintomatica, quando há um escandalo social bastante falado as denuncias duplicam... só isto já diz bastante, nao?!
Por outro lado, as pessoas hoje vivem menos oprimidas por vergonhas imaginárias...
Nunca esqueço a cara de espanto de um amigo de familia quando eu com os meus desempoeirados e adultos 14 anos disse numa tertulia ocasional entre familia/amigos que se algum homem me tocasse ou desrespeitasse iria pela janela fora no momento e de preferencia que fosse um 5º andar... ele ficou siderado e deitou um olhar de esguelha ao meu pai, apelando para alguma moderação... que exibiu um sorriso discreto e disse que era mesmo assim, que eu tinha toda a liberdade, autonomia e apoio dele e que tinha muito orgulho que eu fosse uma leoa e nao uma galinha...
O senhor amigo ficou a tartamudear que achava muito bem, sim senhor, mas que a maioria das mulheres eram e procediam diferente...
eu rematei: "porque sao educadas para falhar: Quando vão à guerra, quando ha um confronto físico ou outro, elas já estao vencidas antes de estarem... ha uma lavagem cerebral nos filmes, nas leituras, em tudo". (eu reparava muito nisso na altura e claro era super-contestatária -uma autentica mafaldinha! e bastante marciana tambem...
Eu era aquela menina que dizia em alto e bom som que numa violação só há um envergonhado: quem viola, nunca o violado/a! Há vinte/vinte e cinco anos atrás as pessoas não aceitavam esta postura fácilmente...

Agora sou muito mais calma, rss

Por outro lado, acerca de pedofilia havia (ainda haverá?) homenzinhos no Portugal profundo que diziam das filhas/enteadas coisas tipo: "eu ando a cria-la para outro, e nao vou ser o primeiro a comer?!"
Sem comentarios, mas este tipo de mentalidade existe/iu e os seus tristes produtos estão por aí muitos sem a devida correcção...

Um pontinho para reflectir:
Plutão, planeta dos segredos, inconciente colectivo e submundo está nestes anos com aspectos importantes que se traduzem no colectivo em desvelar e desenterrar segredos e escandalos escabrosos... dá uma olhadinha a breve explicação: http://fotolog.terra.com.br/blogdalou:83

Beijokas

Lealdade Feminina disse...

Eu sei o que é isso Marian, pois meu (ex)namorado ucraniano fez a mesma cara de espanto qdo eu disse a ele, que era absurdo um homem bater numa mulher, ao que ele dizia que se fosse preciso, ele batia... e eu disse que se ele me batesse eu chamava a polícia, e ele nunca mais me veria... E se nós fôssemos casados, e com filhos? Eu respondi, eu pegava nos meus filhos e ia embora, pra sempre, voltava pro Brasil, e vc nunca mais ia saber nem de mim, nem deles... Ele sempre foi super gentil super romantico... nunca tivemos sequer uma discussão... Mas eu sei que na cultura dele isso é banal. Até entre os homens, há essa violência gratuita, qdo eles se conhecem, e fazem amizade com outro homem, logo brigam, pra testar as forças...
A violência às vezes depende muito da mulher aceitar calada, impotente... mas nem sempre... Muitas vezes a violência paralisa, deixam as pessoas sem reação, e é verdade que as mulheres se sentem culpadas, as vítimas se sentem culpadas... pq não é só as mulheres que são vítimas de pedofilia não, os meninos tbm... Tive um aluno, o Alexandre, que sofria terrivelmente com o padrasto, e eu via esse terror nos olhos dele, mas ele nunca se abriu comigo, não quis conversar, não quis saber, quase como se ele me dissesse telepaticamente que eu não poderia fazer nada... Aqui, em Portugal eu tinha um vizinho de 9 anos, que vinha brincar com o Theo, e às vezes ele vinha com o olho roxo, o pai era uma boa pessoa, mas bêbado ficava totalmente sem controle... Eu dizia ao Rafael: Ninguém tem o direito de te machucar desse jeito, vc tem de pedir ajuda...
Há uns 6 meses a mãe dele interferiu, e a assistente social optou por deixá-lo num colégio interno. Foi muito triste, mas a mãe dizia, "é duro pra mim, mas eu quero que meu filho seja um homem, e não que ele seja como o pai dele..." Quantas mães tem essa coragem???

Lealdade Feminina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.