terça-feira, 8 de janeiro de 2008

No Tabuleiro da Indiana tem...



O Risco de Ser Mulher na India

Viajar não é só apreciar as belezas
de um lugar exótico,
mas uma oportunidade de aprender
muito mais sobre o povo.
Sempre que viajo, procuro ler sobre o país
e entender além do que é mostrado pelos guias.

Acho que porque tenho uma filha
que eu adoro, sempre me aproximei mais das meninas.
As meninas indianas são lindas,
meigas e espertíssimas e
conquistam a gente com aqueles
olhos enormes.
Tentei estabelecer algum contato
com as meninas que fotografei,
mesmo com o bloqueio da língua
e elas são inesquecíveis.

Sendo assim, procurei entender mais
o que é a vida de uma indiana e,
ainda que eu já soubesse muito disso,
fiquei chocada com tudo que ouvi
de alguns indianos com quem conversei
(guia turístico, motoristas de taxi, funcionários do hotel)
e pesquisando, na Internet,
nas minhas madrugadas insones em Delhi.

Esse é o lado triste e feio da história,
que eu também precisava mostrar aqui.

Aborto seletivo

A India tem um dos menores índices de
nascimento de mulheres do mundo.
Segundo o censo de 2001, nascem apenas
927 mulheres para cada 1000 homens.
No Estado de Haryana esse índice cai para
782 mulheres, enquanto que, em outros países,
a estatística média é de nascimento
de 1050 mulheres para cada 1000 homens.
E, na India, essa diferença está aumentando a cada ano.

São os "avanços da tecnologia"
e suas consequências inesperadas.
A diminuição do nascimento de meninas,
na India, deve-se à proliferação de
empresas clandestinas, em qualquer cidadezinha
mais remota da India, que fazem ultrassom
por apenas 10 dólares e, com uma taxa adicional,
fazem um aborto, se o feto for do sexo feminino.

A situação é tão grave que o governo
proibiu a realização de ultrassom,
com o objetivo de saber o sexo do bebê.
Mas o apelo dessas empresas
e a realidade social falam mais alto.

Propagandas dessas clínicas afirmam:
"pague 500 rupees agora e economize 50.000 no futuro"
numa referência ao dote que o pai da noiva
precisa dar à família do noivo, no casamento.

Infanticídio

Descaso e suicídio de meninas
Dos 15 milhões de meninas nascidas
anualmente na India, cerca de 25%
não vai sobreviver até seu aniversário de 15 anos.

A prática de infanticídio ainda existe
em algumas regiões da India.
Bebês do sexo feminino são mortos
através do consumo de arroz e leite envenenados,
geralmente oferecidos pelo homem mais velho da família.
Quando as meninas escapam de ser assassinadas,
no primeiro ano de vida,
são vítimas de um assassinato gradual.
Não são enviadas à escola,
trabalham duro em casa e morrem de desnutrição
ou total abandono de cuidados de saúde.Os índices de suicídio,
entre as meninas, são assustadoramente maior
que entre os meninos.
Estudo publicado no reconhecido
jornal científico britânico The Lancet
mostrou que o índice de suicídio entre as meninas,
entre 10 e 19 anos é de 148 para cada 100.000
enquanto que entre os meninos
esse número cai para 58 em cada 100.000.

A média mundial é de 14.5 suiciídios
para cada 100.000 meninos e meninas.
Sendo que em países ocidentais,
ao contrário da India,
o índice de meninos que cometem suicídio
pode ser até 3 vezes maior que de meninas.

O Fenômeno "Bride-Burning"

Se a menina sobreviver a tudo isso,
e conseguir que a família arranje um casamento,
ela ainda estará correndo risco de ser queimada viva,
no que se convencionou chamar de
"bride-burning", e que poderia ser
traduzido por "queima da noiva".

Como vocês vão ler no meu próximo post,
sobre o casamento na India,
a família da noiva é obrigada a dar um dote
e vários presentes para a família do noivo.

Em muitos casos, quando a "fonte de dinheiro"
se esgota, o noivo e sua mãe passam
a considerar aquela noiva indesejável.
E a matam, para que o noivo possa casar-se novamente
e começar todo o processo de presentes de novo.

O termo "bride-burning" começou a ser usado
porque essas mulheres, geralmente,
são mortas na cozinha,
enquanto estão preparando a refeição da família,
alguém joga querosene,
outro acende um fósforo
e a morte é reportada como
"acidente doméstico" com o fogão a lenha.

Dados oficiais do Governo da India
apontam 7.000 mortes por "Bride-Burning",
por ano, ONGs afirmam que é o dobro.
Um artigo chega a falar em 25 mil.
Além da prática de assassinato das noivas,
cujas famílias não dão a quantidade de dinheiro
e presentes solicitada,
é comum a tortura dessas mulheres,
que apanham tanto da família do noivo
que tornam-se portadoras de deficiências físicas,
com ainda mais dificuldade para trabalhar duramente,
como espera-se que faça.Muitas vezes, mesmo sabendo
que corre risco de vida, a noiva não tem para onde ir.
Os pais não a querem de volta
e os abrigos governamentais não oferecem
condições de moradia e é difícil conseguir uma vaga.

Outros dados sobre as mulheres, na India

* Altíssimos índices de desnutrição,
porque a tradição é que as mulheres
se alimentem por último e
menos que o resto da família,
mesmo que esteja gravida ou amamentando.
* Mães desnutridas dão a luz à bebês desnutridos,
perpetuando o ciclo.Mulheres recebem menos cuidados de saúde
que os homens, muitas vezes são forçadas
a ter vários filhos, até um ser homem,
não recebem cuidados adequados
durante a gestação e saúde reprodutiva.

* Para cada 100 mil nascimentos,
morrem 540 mulheres indianas no parto
ou em decorrência de complicações da gravidez.
Muitos desses casos são consequencia
de abortos ilegais.
No Brasil, o índice de mortalidade materna
é de 160 para cada 100.000 nascimentos.
Na Suécia o índice é de apenas 5 mulheres
para cada 100.000 nascimentos.
* As meninas recebem muito menos educação
formal que os meninos,
são tiradas da escola para ajudar em casa
ou por medo da violência.

* Em termos de quantidade, a India tem
um dos maiores índices de participação da mulher
no mercado de trabalho.
* As mulheres trabalham mais horas
e em tarefas mais árduas que os homens.
Ainda assim, seu trabalho não é reconhecido.

* Em lugares onde a vida da mulher vale tão pouco,
é normal que o estupro
não seja considerado crime grave
e tenha índices altíssimos,
especialmente nas cidades grandes, como Delhi.

* Ainda que existam leis que protegem a mulher,
elas não são cumpridas.
Mulheres nunca têm direito à herança.
Mas, porque isso tudo acontece?
Porque é tão arriscado ser mulher nesse país?


Foto: feita por mim no Taj Mahal.

As mulheres costumam esconder o rosto com o sari.

Ela já tinha o rosto coberto quando fotografei,

não foi um reflexo para se esconder da cãmera.


Por DENISE ARCOVERDE

Retirado do site Síndrome de Estocolmo


Um comentário:

Lealdade Feminina disse...

Será que é preciso por aqui uma foto de uma mulher em pleno Bride Burning e outra ocidental fazendo yoga ou dançando à indiana???
Acordem a verdadeira consciência da feminilidade, saiam desse mergulho falso e superficial, apenas usando o lado exótico de outras culturas para fugir de si mesmas em pseudo-tratamentos que já se mostrarm ineficazes, pois são apenas mais uma moda consumista... Se os indianos fossem assim superiores tratariam as mulheres de forma muito diferente...