segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mulher de Malandro

Tenho tido na vida real algum contacto com mulheres vítimas de violência doméstica, e confesso q depois de tudo, e de receber apoio e ajuda, elas voltando para os agressores, perdoando tudo, colocando a culpa em alguma mulher da história e até suplicando pela volta do malandro... muito complicado isso, e pra não perder a lucidez e a vontade de ajudar, pq afinal, é muito mais grave do q pensamos...e muito mais difícil de sair de dentro da situação... mesmo com apoio exterior, pq há raizes profundas a prendê-las no sofrimento...

Tô tentando entender... e fui pesquisando...



Embora tanto os homens quanto as mulheres possam ter passado por experiências que predisponham para a síndrome masoquista, ela é mais comum nas mulheres, porque nelas, elementos culturais reforçam continuamente este comportamento. Embora as mulheres tenham conquistado mais autonomia em relação aos seus destinos, e maiores oportunidades para a realização pessoal nos últimos anos, o masoquismo feminino continua atuando de forma destrutiva, puxando o tapete sob elas.O problema do poder parece ser o centro do comportamento masoquista. É na família que a criança, inicialmente fraca e indefesa, toma o primeiro contato com medo do poder investido em outras pessoas. A mãe é grande e poderosa, e a maneira como ela exerce o seu poder nos cuidados com a criança é em grande parte responsável pela saúde psicológica do filho. Há muitas maneiras pelas quais os pais podem abusar de seu poder, além da agressão física. Se essas ações são repetitivas e continuadas, preparam o terreno para o masoquismo, minando a “confiança básica” da criança, aumentando nela a sensação de impotência e vulnerabilidade. O terror é o gatilho de qualquer transação masoquista. Na verdade o masoquismo é um mecanismo de defesa que através do dano auto-infligido procura evitar ou extinguir a agressão, real ou suposta, vinda de outras pessoas. A essência do masoquismo é a autopunição e a submissão à outra pessoa, e o sofrimento estabelecido como estilo de vida. Não se trata de maneira alguma de sentir prazer com o sofrimento, mas sim de não conseguir identificar alternativas não dolorosas para seu comportamento. Como o masoquista repete os processos destrutivos e dolorosos a exaustão, comete-se o erro de julgar que isso possa lhe dar algum prazer.




Se o que desejamos colocar em debate é o masoquismo moral das mulheres, acreditamos ser útil a referência ao pensamento de Emilce Bleichmar e a instigante questão que ela coloca em seu livro Sobre a sexualidade feminina – da menina à mulher : “Por que será que toda vez que nos defrontamos com o óbvio da freqüência da experiência da violência no cenário da história vivencial ou das categorias do simbólico, em vez de aplicar a tese do ominoso, do sinistro – tese clássica freudiana -: a duplicação pelo real do fantasma, como fator de importância na manutenção da angústia persecutória da mulher nas experiências sexuais, apela-se rapidamente ao enigmático?”
Para a autora, o masoquismo moral das mulheres (que ela também entende como formas defensivas contra a violência) não pode ser pensado sem que se leve em conta a presença da violência do simbólico que o institui, nem separado dos valores sobre o feminino, os ideais e mitos sobre a feminilidade. A partir de tal colocação convida-nos ao seguinte desdobramento: qual o efeito da hipersexualização do corpo feminino, que se tipifica e se propõe como um ideal (por exemplo, através das bonecas oferecidas para as brincadeiras das meninas, como Marilu e Barbie) e que tem um percurso isolado das vivências auto-eróticas e dos fantasmas sexuais, mas que tem que ser recriado na versão imaginária do ego corporal que vai se instituindo como pólo narcísico e simbolizante do ser feminino? Parece-me que esse tipo de questão é fundamental para não se universalizar a soldadura entre o masoquismo e as mulheres.






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